O Lado Sombrio da Virilidade: Por que os Homens Morrem Mais e Vivem Menos no Brasil
Portal O Grande News
Ser homem no Brasil ainda é um fator de risco. Dados do Ministério da Saúde e do IBGE mostram que eles vivem, em média, 7,1 anos a menos que as mulheres. A combinação entre comportamentos de risco, tabus culturais e resistência em buscar cuidados médicos revela uma crise silenciosa que impacta milhões de brasileiros todos os anos.
Enquanto campanhas como o Novembro Azul tentam romper o silêncio, os números expõem o peso de uma masculinidade que ainda confunde coragem com descuido.
O Câncer de Próstata e a “Tragédia da Curabilidade”
O câncer de próstata é o mais comum entre os homens e a segunda principal causa de morte por câncer nessa população, atrás apenas do de pulmão. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima mais de 71 mil novos casos por ano entre 2023 e 2025.
Apesar de sua alta incidência, o que mais impressiona é a contradição: quando detectado precocemente, o câncer de próstata tem índices de cura entre 90% e 98%. Ainda assim, 47 homens morrem todos os dias em decorrência da doença.
Para a oncologista Dra. Ana Lúcia Ferraz, o problema vai além da falta de informação.
“Temos um câncer curável, mas que continua matando porque os homens chegam aos hospitais tardiamente. Muitos evitam o exame de toque ou o PSA por vergonha, medo ou preconceito. É uma resistência cultural ao autocuidado”, explica a médica.
Novembro Azul: Um Mês Contra o Silêncio Masculino
Inspirado no movimento Outubro Rosa, o Novembro Azul surgiu com o propósito de quebrar tabus e incentivar o diagnóstico precoce do câncer de próstata. A campanha chama atenção para a importância de o homem procurar um urologista regularmente, especialmente a partir dos 40 ou 50 anos, dependendo dos fatores de risco.
Mas o movimento vai além da próstata: ele defende uma visão integral da saúde masculina, lembrando que o homem também precisa falar sobre prevenção, emoções e qualidade de vida.
O problema é que, segundo o Ministério da Saúde, cerca de 31% dos homens brasileiros não costumam ir ao médico. Essa ausência reflete diretamente nas estatísticas de mortalidade por doenças cardiovasculares, diabetes e outras enfermidades que poderiam ser controladas com acompanhamento regular.
O Risco da Vida Masculina: Trabalho, Rua e Violência
Os números mostram que a vulnerabilidade masculina também se estende para fora dos consultórios médicos.
Acidentes de Trabalho: Mais de 90% das mortes registradas no ambiente laboral são de homens.
População de Rua: Eles representam 87% das pessoas em situação de rua no Brasil.
Violência: Em 2023, 92% das vítimas de homicídio eram do sexo masculino.
Saúde Mental: A taxa de suicídio entre homens é 3,8 vezes maior do que entre mulheres.
Esses dados revelam um padrão social que combina pressões de desempenho, papéis tradicionais de provedor e uma cultura de negação da vulnerabilidade.
Um Novo Significado para Coragem
O Novembro Azul é, portanto, mais do que uma campanha de prevenção: é um convite para repensar o que significa ser homem.
Romper o tabu do toque retal, fazer exames de rotina e buscar ajuda médica não diminui a virilidade — a fortalece. A verdadeira coragem pode estar em uma simples consulta, em um pedido de ajuda ou em um gesto de cuidado.
“Cuidar da saúde não é sinal de fraqueza, é um ato de sobrevivência”, conclui Dra. Ferraz.
Enquanto a sociedade continuar a associar o autocuidado à fragilidade, milhares de brasileiros continuarão morrendo de doenças que poderiam ser curadas. A tragédia do câncer de próstata é, acima de tudo, a tragédia do silêncio.




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