“Sempre houve assalto aqui, mas agora está uma coisa fora do controle.” Essa é a constatação de uma pedagoga que vive há 15 anos em Guaianases, zona leste da capital paulista, sobre a onda de roubos promovida na região, em sua grande maioria, por ladrões em motos.

Os números oficiais confirmam o temor da população, apesar de subnotificados pelo fato de parte das vítimas não registrar boletins de ocorrência. Segundo dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP), os roubos aumentaram em 37%, no primeiro bimestre deste ano, na área do 44º DP de Guaianases.

“A sensação que temos é a de que, da mesma forma que existem equipes de trabalho, aqui no bairro existem ‘equipes de roubo’. No sábado (13/4), aconteceu um caso assim”, afirmou a pedagoga, que pediu para sua identidade não ser divulgada, temendo por sua segurança.

A mulher se refere a dois assaltos ocorridos no sábado na Rua Júlio Salusse, em um intervalo de poucos minutos, praticados por duplas diferentes de criminosos, sempre em motos. O alvo dos marginais são celulares, relógios e joias, como alianças de compromisso. Mas há casos em que levam até peças de roupas, como registrado em vídeo por uma testemunha (assista abaixo).

O bairro, assim como praticamente toda a capital paulista, é monitorado por câmeras instaladas em casas e comércios. A presença dos equipamentos, porém, não inibe os bandidos, que chegam a fazer rondas atrás de vítimas, já que não há policiamento efetivo, segundo moradores.

Também há casos, segundo relatado ao Metrópoles, de assaltos simultâneos, nos quais duas duplas de ladrões abordam pedestres que caminham pelas vias de Guaianases. A reportagem apurou que ocorrem roubos, quase que diariamente, nas Ruas Julio Salusse, Antônio Soares País, Irmãos Murgel e Quinta do Paço.

Coronhadas e arma no peito

A pedagoga ouvida pelo Metrópoles já foi vítima de dois assaltos, em um intervalo de pouco menos de um ano, na rua de sua casa.

O primeiro ocorreu em dezembro de 2018, quando ela voltava da casa da mãe, na garupa da moto de seu então namorado. Quando ambos chegaram na rua da casa dela, uma dupla aguardava também em uma moto.

“Parecia que eles estavam esperando alguém entrar na rua para roubar. Assim que paramos a moto, em frente de minha casa, deram coronhadas no meu namorado e levaram a moto e o celular dele.”

Na outra ocasião, em novembro do ano seguinte, o mesmo namorado foi agredido com coronhadas e levaram novamente a moto e o celular dele. A pedagoga chegou a reclamar com os bandidos sobre a violência e um deles apontou a arma em direção ao peito dela, antes de fugir.

“Fiquei com síndrome do pânico por causa da violência. Só não levaram meu celular, nas duas vezes, porque saí sem o aparelho, justamente por temer ser assaltada.”

Vídeo

Abordagens violentas

O Metrópoles obteve um registro no qual é possível ouvir (ouça no vídeo acima) parte do que os bandidos falam ao abordar a vítima.

As imagens mostram que, no fim da noite do último dia 2, um rapaz de mochila caminha pela Rua Vinhático, na zona leste, quando uma dupla em uma moto para ao lado dele.

O garupa saca uma aparente arma de fogo. Em seguida, a vítima retira a mochila e a estende para os criminosos. Um dos ladrões manda o rapaz levantar a camiseta após ele falar que o celular está dentro da bolsa. “Eu vou te matar”, ameaça o criminoso, após a vítima se negar a levantar a blusa.

O rapaz é empurrado pelo bandido, que pega o celular e sobe na garupa da moto, fugindo em alta velocidade. A mochila da vítima foi deixada no local.

Mudança de rotina

A onda de roubos, acompanhada da sensação de insegurança, está fazendo com que os moradores de Guaianases mudem suas rotinas e hábitos. Parte das pessoas sai de casa sem celular, ou qualquer objeto que possa ser levado pelos criminosos.

Há casos, segundo relatado ao Metrópoles, em que algumas pessoas estão pedindo para mudar o horário de chegada e saída do trabalho.

Alta nos roubos

Dados oficiais da SSP mostram que foram registrados 330 assaltos em Guaianases no primeiro bimestre deste ano. Isso representa um roubo a cada quatro horas. Comparando com os 241 crimes, registrados no mesmo período do ano passado, a alta foi de 37%.

Os registros de roubos no primeiro bimestre deste ano ainda superam os de furto, crime com 218 notificações no período, segundo os dados da SSP.

O que diz a SSP

A pasta da Segurança Pública paulista afirmou, em nota enviada nesse domingo (14/4), que o policiamento ostensivo será reforçado na região por equipes do 28º Batalhão da PM.

“As polícias Civil e Militar atuam em conjunto para coibir a criminalidade em toda a capital paulista, incluindo o bairro citado.”

A SSP acrescentou não ter localizado os boletins de ocorrência dos casos mencionados nesta reportagem e orienta as vítimas a registrarem os assaltos para que a polícia “possa mapear os locais com maior incidência criminal”.